Mulheres reféns do crack
Durante os estudo de uma faculdade no Rio Grande do Sul entre 60 mulheres internadas no departamento psiquiátrico de uma clínica especializada em dependência química constatou-se que grande parte delas trazia traumas da infância, como abusos ,mal tratos, abandono e descaso , bem como deixaram clara a necessidade do uso com maior frequência.
Veja também:
Bella Clinic: Clínicas de reabilitação em SP
https://bellaclinic.com.br/2018/10/19/clinica-de-reabilitacao-feminina-sp-cordeiropolis/
Acompanhar o processo
de desintoxicação de usuárias de crack e identificar os fatores de vulnerabilidade a que essas mulheres foram expostas, durante a infância e a adolescência, associados à fissura.
Com esse objetivo o professor Rodrigo Grassi , coordenador do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), comanda a pesquisa Estudo de corte sobre fatores de vulnerabilidade associados ao craving (fissura) em dependentes de crack: impacto da negligência na infância na
cognição, comportamento e resposta neuroendócrina.
Todos os fatores sociais e físicos foram estudados na pesquisa , bem como a interação deles no processo da dependência química do crack e suas manifestações em mulheres, que a cada dia aumenta em números expressivos no Brasil.
O que era uma droga com um número muito pequeno de mulheres se transformou em um problema onde o aumento passou a ser significativo , aumentando inclusive o numero de clínicas femininas de recuperação em São Paulo e em todo o país.
O projeto é desenvolvido no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse da Faculdade, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Ele tem como objetivo investigar fatores de risco para uso do crack ao observar o comportamento de 260 pacientes internadas na Unidade Psiquiátrica São Rafael, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. O perfil encontrado é de mulheres entre 18 e 50 anos, usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) e de
diferentes classes sociais.|Por se tratar de uma instituição governamental, o acesso aos dados foi facilitado pela organização e a equipe empenhada nos estudos.
O monitoramento das pacientes é de 21 dias, período médio da internação para desintoxicação. A pesquisa começou em março de 2011 e conta com 60 mulheres avaliadas. Até o momento, foi identificada uma diminuição do risco de suicídio, uma redução importante da depressão e estabilização dos sintomas de craving, a chamada fissura, um dos mais graves e intensos em usuários de crack.
A previsão é de resultados inovadores, de potencial importante, já que existem poucas pesquisas com abordagem interdisciplinar na investigação do processo de desintoxicação do crack, prevê Grassi. Os estudos começaram de uma maneira mais simples e foram se expandindo, fazendo com que fossem descobertos novos fatores, bem como a maneira de se controlarem impulsos gerados pela droga e melhorar a visão diante da síndrome de abstinência e seus efeitos através das mulheres dependentes do crack.
Dentre vários outros fatores o que se destacou no trabalho realizado foram , entre os resultados parciais foi a relação com histórias de maus tratos na infância, em especial de negligência, e a dificuldade para reduzir os sintomas de fissura.
Essas mulheres levam o dobro do tempo das demais para superar essa fase. A hipótese é de que o estresse torna vulnerável o cérebro da criança e faz com que seu sistema de recompensa seja impactado, em virtude de alterações no desenvolvimento das estruturas cerebrais relacionadas, o que mais tarde cria uma dificuldade de controlar demandas de dependência química, essa foi uma das conclusões que demonstram a existência de fatores pré uso que podem levar mulheres ao uso e à dependência química em geral.
A recompensa é um dos fatores que incentivam o uso de drogas ilícitas , em virtude de amenizarem sensações de desconforto e de traumas sofridos, fator extremamente importante entre as causas que levam ao vício e à dependência de drogas, principalmente as psicoativas, que atuam em determinadas zonas do cérebro humanas, e ligadas às emoções e dores causadas por elas.
Segundo o professor, das 60 mulheres investigadas, mais de 75% sofreram maus-tratos na infância.
Isso é importante porque o maior problema do crack é a recaída, e vem daí a importância na manutenção do tratamento de dependência química , bem como o posterior acompanhamento e cuidado , principalmente por instituições de apoio ao dependente químico , como o AA , o
NA e vários outros, assim como apoio de familiares e amigos envolvidos como dependente químico em questão.
Quando a recaída é precoce existe o desenvolvimento do sistema de recompensa no cérebro. Os dados serão apresentados somente ao final do estudo, previsto para o segundo semestre de 2012. O estresse precoce da criança contribui para o contato com as drogas.
Essas pessoas se tornam mais suscetíveis a buscar alternativas de transgressão, como o uso de substâncias psicoativas. Quanto mais cedo a pessoa for exposta à droga, mais difícil será não se viciar e mais difícil será a desintoxicação, revela Grassi.
O que fica bem demonstrado é a influência na vida precoce de fatores externos , o que facilita a procura e a necessidade do uso das drogas desde cedo. Quanto maior o envolvimento com traumas e mal tratos durante a infância , maior o fator de risco em se envolverem com a dependência química precoce e a facilidade em adquirirem o vício em drogas.
Caracteriza a doença como emocional , antes de se tornar química . Desde que se começou a estudar a dependência química como um fator social e a ser considerada uma doença , o que se pensava é que se tratava de fraqueza do indivíduo , ou falta de vergonha. Com a evolução dos estudos ficou clara a interferência de história de vida e traumas sofridos pelas dependentes.
Segundo o psiquiatra, a média de idade para o início do uso de drogas nessa amostra é de 12 anos para substâncias como maconha e cocaína , e isso inclui o crack , por ser derivado dessa mesma cocaína. O uso de álcool e cigarro começa mais cedo, por volta dos nove ou dez anos , idade bem precoce , mesmo nos dias de hoje, o que traz uma preocupação social de extrema importância por poder,principalmente trazer desde muito cedo danos que por vezes levam à morte, bem como cronificar como
doença e levar a danos de grandes proporções, e por vezes , irreversíveis.
O estudo pretende mostrar a importância da prevenção primária. Políticas públicas de bem-estar infantil, reforço no Conselho Tutelar e intervenção familiar podem evitar esses problemas. Queremos quantificar a importância de uma infância adequada e evidenciar o dano que pode levar à
intervenção, garante o pesquisador em demonstração que se tata de um problema social sério, e que envolve inúmeros fatores na criação e na vida das mulheres de uma maneira geral.
Entre as várias perguntas que o projeto da Faculdade de Psicologia busca responder, a principal é do ponto de vista psicobiológico:
O que acontece com pacientes durante a desintoxicação? Para encontrar as respostas, o projeto avalia aspectos biológicos, clínicos, cognitivos e comportamentais relacionados à síndrome da abstinência. Os resultados atuais foram obtidos com a avaliação de vulnerabilidade, na parte comportamental, onde está a principal relação com o estresse. por se tratarem de
mulheres, são socialmente mais sensíveis que os homens de um amaneira geral.
No que diz respeito ao aspecto cognitivo, verificam-se as funções executivas como julgamento e tomada de decisão. São realizados testes de memória e de atenção, que consiste em um jogo de cartas para simular decisões da vida real em um paradigma de lucro e perda. Na área clínica são avaliados sintomas de depressão, ansiedade, fissura, gravidade da dependência química, transtornos psiquiátricos e comportamentos auto lesivos , os aspectos vistos juntos ou de maneira individual levam às
compreensões mais profundas em relação à dependência química como um todo respeitando-se as individualidades.
Os estudos biológicos utilizam o fio de cabelo para identificar o grau de exposição ao hormônio do estresse nos últimos meses em uma parceria com o Laboratório de Toxicologia. Para cada centímetro de cabelo é possível determinar um mês.
Por meio de
amostras de sangue, em parceria com o Laboratório de Imunologia do Estresse, são analisados os marcadores inflamatórios, neurotróficos (responsáveis pelo crescimento de neurônios) e hormonais. Esse controle tempo real ajuda muito no controle tanto do stress, como na contagem da presença dos resíduos da droga, facilitando o estudo e compreensão dos efeitos gerais e colaterais da droga
A pesquisa teve um aspecto multidisciplinar, envolvendo o estudo através de várias áreas de atuação. A coleta de dados conta com oito pesquisadores, sendo três do Hospital Mãe de Deus e cinco da PUCRS.
No laboratório da Universidade, quatro profissionais trabalham na extração do material biológico e dois no gerenciamento de dados. Estão envolvidos profissionais de Psicologia, Psiquiatria, Enfermagem, Terapia Ocupacional e Educação Física.´, o que dá uma grande amplitude tanto na pesquisa
, como na composição de resultados vistos por cada disciplina.
As Faculdades de Psicologia e de Educação Física e Ciências do Desporto da PUCRS pretendem implementar, um projeto para intervenção na reabilitação cognitiva por meio da atividade física. com uma seleção de alunos da iniciação científica e dois professores da serão capacitados no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse, vinculado à Faculdade de Psicologia, para trabalhar com trauma , adequando exercícios físicos como fator do tratamento de um modo geral, o que pode gerar muitos benefícios e critérios para novos tratamentos da dependência química de modo geral.
Exercícios aeróbicos podem ser de grande ajuda no tratamento da dependência química, principalmente entre as mulheres, onde as funções hormonais podem ser melhor equilibrada diante das atividades físicas.